Trabalhe com aquilo que ama, e não ame mais nada

29/05/2025

Escrito por:

Pedro Parker

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Não são poucos os discursos vindos através de pessoas na internet (normalmente coaches) aplicando a ideia de que basta você trabalhar com aquilo que gosta, ou até mesmo ama, para que se consiga uma vida feliz e plena, quiçá, perfeita. Mas será isso verdade? Basta procurar aquilo que se gosta ou ama e pronto, tudo estará resolvido. A ideia é simples: transforme sua carreira profissional em um eterno hobby que a felicidade estará presente. Será?

A resposta é uma só: não. Nos dias atuais temos mais pessoas sobrevivendo do que vivendo (e o número tende a aumentar ainda mais). O número de pessoas em situação da rua praticamente dobrou. Em uma sociedade onde o direito de escolha é negado, assim como os direitos básicos garantidos em constituição, direcionar a carreira profissional para um hobby ou algo do tipo nem sempre dará certo.

Abaixo estão algumas reflexões sobre esse tema. O texto não pretende encerrar o assunto, pelo contrário, quer causar dúvidas e incitar pensamentos. Por último, mas não menos importante, não quer negar que há pessoas que trabalham com aquilo que amam/gostam e se sentem realizadas. 

Falta de oportunidades

Em uma sociedade onde o acesso à educação é um desafio, terminar a escola ou ingressar em um curso superior se tornam coisas raríssimas para grande parte da população. É na infância que muitos(as) vão tendo seus destinos traçados. Não são poucas as pessoas que não têm acesso ao básico: ensino, alimentação, saúde, segurança e moradia, o que acaba fazendo com que várias destas mesmas pessoas nem tenham o direito de sonhar (e descobrir o que fato gostam). É a falta de oportunidades também que fomenta pessoas a se candidatarem a vagas de empregos insalubres(escala 6x1, salários baixos) para poderem ao fim do mês sobreviverem.

Se o direito de viver é negado, imagine o direito de sonhar e descobrir aquilo que se quer fazer, que se gosta de fazer. Pessoas são roubadas ainda nos berços.

Tudo é mercadoria, é preciso (sempre) produzir mais

Na atual sociedade é possível vender tudo, e aquilo que não se pode, basta questão de tempo para ganhar as prateleiras. Tudo se torna mercadoria. Não há (nem se deve) espaço para tempo, paciência ou desfruto daquilo lançado, não, pelo contrário, se um produto é lançado hoje, daqui a pouco meses terá (e precisará) de um mais novo, moderno. Celulares são lançados aos montes, seriados que são previamente feitos para terem tantas temporadas, são renovados para carregar o dobro de episódios. 

E nessa de produzir mais, quem antes trabalhava para sentir o prazer (e óbvio, ganhar dinheiro), vê seu sonho e seu prazer serem deixados de lado. Agora é preciso produzir mais, criar mais, estar inovando sempre. O processo que antes carregava todo um significado desta vez morre, tudo se torna automatizado para garantir a demanda: dos mercados. Esses (mercados) têm fome, mesmo de barriga de cheia. 

Discurso distorcido

É preciso citar que muitos coach’s que passeiam pela grande mídia e canais na internet adoram fomentar discursos como: ‘trabalhe enquanto eles dormem’ ou ‘trabalhe com o que ama e nunca trabalhará’ (ambas as frases são questionáveis, essa última, por exemplo, questiona diretamente o caráter do trabalho na vida do ser humano). Se faz necessário dizer que um hobby não tem e não deve carregar o objetivo de transformar as pessoas em seres mais produtivos, não, pelo contrário, aqui a ideia é tirar o pé do acelerador. É fazer com que a pessoa aproveite sua própria companhia, se conecte com ela mesma, goze esse tempo consigo mesmo. 

Considerações

É preciso viver, e para isso é necessário consumir o máximo que se consegue. Não à atoa pessoas compram produtos para serem estimuladas a fazerem o básico (se hidratar, por exemplo, com garrafinhas personalizadas). E nesse consumo desenfreado, sofrem compradores e vendedores, que por sua vez carecem de tempo para aproveitar seus produtos. Não há espaço para ambos. O lema atual é: penso, logo consumo. O texto, mais uma vez, não pretende encerrar o assunto, mas provocar levantamentos e pensamentos. É possível, sim, ser feliz, fazendo o que se gosta, mas é necessário também, olhar o outro lado.

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