Ônibus: a extensão do nosso corpo. Seria eu um Transformer?

09/06/2025

Escrito por:

Luiz Lucas

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Uma homenagem ao 637R-10 e a todas as pessoas que já tiveram o ônibus como moradia

Calma, calma, eu sei que você tá confuso, e vai ficar ainda mais antes de começar a entender, mas vem comigo nessa brisa.

Tempo desses me deparei com umas fotos no Instagram feitas pelo Zahid que mostravam os busões da zona sul de São Paulo, especificamente do Jardim Ângela. Na hora, lembrei de um sonho antigo: tatuar o número do meu busão do meu bairro, o famoso (e por vezes temido) 637R-10 - Jardim Aracati.

Comentei sobre a tatuagem com uma amiga do bairro (que fiz dentro desse busão) e a resposta dela foi: “Acho que não teria essa coragem, ele já me marcou muito mais do que deveria”.

Estaria eu ficando louco? Talvez. Mas penso que devo um pouco do que eu sou hoje ao 637R-10 e a todos os outros ônibus que viraram uma extensão da minha casa. Foi em pé - às vezes acordado, às vezes dormindo - sim, dormindo em pé, que eu estudei, refleti, sorri, chorei, envelheci, cresci, li, olhei, pensei, cobicei, bocejei, esbravejei, escorreguei, esbarrei, me desculpei. Periferianei.

“Ah Luiz, mas isso é padrão nas quebradas, por que você está romantizando isso?”.

Eu jamais romantizaria o sofrimento das quebradas, e estou colocando apenas fatos vividos por mim. Não é culpa nossa - e muito menos justo - a rotina de estudar, se alimentar ou descansar dentro de um coletivo, mas isso aconteceu comigo, está colocado na minha e em muitas outras histórias e não pode ser apagado. É assim que eu quero lembrar do 637R-10. Então por que não “agradecer” a esse espaço, assim como agradeço sempre ao Jardim Ângela, por ter formado quem sou?

Por vezes até penso que eu mesmo sou o busão. Seria eu um Transformer?

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