Nunca sonhei em morar fora

23/04/2025

Escrito por:

Nathalia Nunes

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No primeiro texto da coluna “Voa, Quebrada!”, você conhece a história de uma jovem periférica que nunca se permitiu sonhar tão alto, mas descobriu que é possível voar (literalmente) para lugares que nem sabia que existiam

Você provavelmente conhece ou já conheceu alguém que, desde criança, sonha em viver uma experiência fora do Brasil. Talvez você até seja uma dessas pessoas. Já eu, não faço parte dessa estatística. Esse sonho nunca foi meu, ou pelo menos não era até poucos anos atrás, pouco antes de eu encher uma mala de 23kg com as minhas coisas, me despedir de todos os meus amigos e família e me mudar para a Suíça.

Em 11 de outubro de 2023, dois dias antes de embarcar para a Suíça, me reuni com alguns amigos em um bar da zona leste de São Paulo para dizer um até breve.

Para te dar um pouco de contexto, vou me apresentar. Me chamo Nathália, tenho 25 anos, nasci e cresci em Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste da cidade de São Paulo, e sou formada em Jornalismo desde 2021 — profissão que, infelizmente, nunca consegui exercer como gostaria, porque desde antes da faculdade a prioridade era ter um trabalho que pagasse as minhas contas.

A minha vida foi roteirizada (até certo ponto, pelo menos) da forma como a de muitos jovens da periferia foi. Minha mãe sempre pegou no meu pé para ser uma boa aluna, e a ideia de que só o estudo poderia me proporcionar uma vida melhor foi plantada em mim desde muito cedo. O resultado disso foi que eu, de fato, sempre fui boa aluna, e assim que iniciei o Ensino Médio já estava preocupada com o que iria escolher cursar na faculdade (se, com sorte, eu conseguisse uma bolsa).

Mas antes de chegar lá, antes de me tornar a primeira pessoa da minha família com um curso superior no currículo, eu fiz um curso técnico na área de turismo. A ideia era ter uma qualificação que me permitisse encontrar um bom trabalho depois de terminar o Ensino Médio. 

As coisas não saíram exatamente como planejei, e o primeiro emprego que eu encontrei foi, na verdade, como Jovem Aprendiz no departamento de Recrutamento e Seleção de uma grande empresa.

Apesar de não ter sido na área de turismo, essa oportunidade se revelou um ótimo primeiro emprego, e foi graças a ele que eu consegui ingressar em uma universidade privada, já que a minha bolsa era de 60% do valor do curso (que não era nada barato), e eu tive que arcar com o resto.

Quando o meu contrato de Jovem Aprendiz acabou, eu encontrei um estágio que não era bem na minha área, mas me ajudou a continuar pagando as contas. E depois desse, um outro, em Marketing, onde concluí a faculdade e trabalhei por anos. Novamente, não era o trabalho dos sonhos, mas me ajudou a proporcionar a mim mesma algumas das coisas que eu sonhava.

Dessa vez, o sonho era sair da casa dos meus pais. E, no mesmo mês em que colei grau, fevereiro de 2022, me mudei para o meu primeiro apartamento alugado, em Guaianazes, dessa vez finalmente perto de uma estação de trem (ufa, não teria mais que pegar ônibus!), apesar de ainda bem longe do centro de São Paulo — onde, aparentemente, tudo acontece.

Olhando para trás, essa foi a primeira loucura, já que, quando decidi viver essa aventura de morar sozinha, o aluguel e as contas básicas representavam quase 85% do meu salário. Se eu ficasse desempregada, então, lascou. Mas, felizmente, deu tudo certo, e 2022 foi um dos melhores anos da minha vida, graças àquele cantinho de 30m² que eu decorei como quis, que era o meu refúgio, meu lar.

Vish, acho que fui modesta quando disse que iria te dar só um pouco de contexto. Resolvi dizer tudo isso para explicar que, no meio dessa buscar pela tal da vida melhor e na corrida para manter as contas em dia, nunca me sobrou tempo para sonhar em sair do meu país. Afinal, por algum motivo, eu estava convencida de que isso não era sequer uma possibilidade para pessoas que vieram de onde eu vim.

Quando o assunto é imigrar, ou até somente visitar um outro país, é comum ouvirmos sobre o quão caro isso pode ser. E eu não vou mentir: na maioria das vezes, realmente é muito caro e fora da realidade da maioria. Mas, o que eu demorei muito para descobrir foi que sim, é possível. É possível para mim e, potencialmente, para você também.

Cheguei no aeroporto de Zurique, na Suíça, no fim da tarde de 13 de outubro de 2023. De lá, peguei um trem para o meu destino final e foi um perrengue me locomover com duas malas e uma mochila, que juntas pesavam mais de 50kg.

É tão possível que, depois de apenas 11 meses após tomar a decisão de experimentar viver em outro país, eu estava pousando em Zurique, para viver por 14 meses em um dos países mais caros do mundo. E sabe quanto eu tive que investir para isso acontecer? Menos de 4 mil reais. É isso mesmo que você acabou de ler.

Nesse ponto, você deve estar se perguntando como. Não é esquema e nem papo de coach, te prometo. Só que, para entender melhor como eu consegui morar na Suíça por 14 meses e visitar 16 países (spoiler!) nesse período gastando menos de 4 mil reais, você vai precisar ler o meu próximo texto, porque esse aqui já tá ficando longo demais.Te espero aqui mês que vem para te contar tudo sobre o meu processo e como foi viver em um dos países mais lindos do mundo. Tschüss <3

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